A Misericórdia de Deus é Eterna

“JESUS NÓS CONFIAMOS EM VÓS”

 

Segundo domingo da Páscoa. Aleluia! Cristo ressuscitado está no meio de nós. A cor litúrgica é branca. Canta-se com júbilo o hino de louvor. “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, eterna é a sua misericórdia”. A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular. Pelo Senhor é que foi feito tudo isso: que maravilhas ele fez a nossos olhos! Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”, canta o salmo 117, na missa deste domingo.

Domingo da misericórdia. Domingo de Tomé, domingo dos que duvidam, mas a misericórdia de Deus os recriara. A misericórdia de Deus se manifesta através da presença de Jesus na comunidade cristã. (Jo 20,19-31). “Estando fechadas as portas com medo”. Quando nos afastamos de Jesus, da comunidade cristã, do convívio familiar e nos isolamos, as portas do coração ficam fechadas. Longe de Deus e da comunidade. Mas mesmo assim, afirma o Evangelho, “Jesus entrou e pondo-se no meio deles disse: A paz esteja com vocês”. E eles o reconheceram. Mas Tomé não estava com eles. Ao ficar sabendo que Jesus tinha se manifestado aos outros discípulos, ele duvidou. Sim, a dúvida. Ele não conseguia acreditar. Queria tocar, ter provas. É a realidade de hoje. As dúvidas da fé no meio do mundo das coisas e dos experimentos. Depois que Tomé viu Jesus, acreditou e disse a frase repetida até hoje: “Meu Senhor e meu Deus”. Porém Jesus lhe diz: “Acreditaste porque me viste! Bem-aventurados os que creem sem terem visto”.

Estes bem-aventurados somos nós que cremos, sem termos vistos fisicamente a Jesus.

Jesus vê em Tomé um homem, uma mulher que na sua dúvida, busca a verdade. E Jesus ajuda Tomé. Ele tem compaixão de Tomé porque sabe que este ainda não tem a paz que vem da fé, por isso alerta Tomé: “Põe, o teu dedo nas minhas chagas”. Jesus toma a iniciativa e ajuda Tomé a fazer a experiência de descobrir, aprofundar, crescer e se fortalecer na fé. Deus revela a sua misericórdia e bondade para com cada um, mesmo na dúvida, na dificuldade, na dor e na decepção. Jesus vê em Tomé a humanidade que acredita sem ter visto Jesus ressuscitado. Mas acredita na sua presença e na certeza de que não estamos abandonados por Deus. Mas amados, cuidados por Deus.

Domingo da Divina Misericórdia. Papa São João Paulo II, em Maio de 2000, instituiu o domingo da Divina Misericórdia para a Igreja no segundo Domingo da Páscoa.  “O Senhor, que é piedade e compaixão” (Sl 111, 4), pelo grande amor com que nos amou , deu seu Filho Unigênito pela sua inefável bondade como nosso Redentor, para abrir ao gênero humano, pela morte e ressurreição do mesmo Filho, a porta da vida eterna e, recebendo sua misericórdia no meio do seu templo, os filhos adotivos possam exaltar seu louvor até os confins da terra”, afirma o papa João Paulo II. “É, um convite perene para os cristãos enfrentarem, com confiança na divina benevolência, as dificuldades e desafios que a humanidade irá experimentar nos anos que virão” (Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Decreto de 23 de Maio de 2000).

Jesus ensina: “Sede misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). A palavra misericórdia significa: “o amor mais profundo que Deus tem no coração. Amor-compaixão que leva a uma ação. O amor como entrega da vida através da morte e ressurreição” A misericórdia tem duas faces. Deus que é misericórdia, porque ama, perdoa, recria, dá novas oportunidades, se faz presença na Eucaristia, na Palavra, nas pessoas, na comunidade. Deus que ama e salva seu povo e cada pessoa. Mas a outra face da misericórdia vem de nós, de nosso coração que precisa ser misericordioso com as pessoas, com a família, com os vizinhos, no ambiente de trabalho, no trânsito, no cotidiano da vida, no cuidado com as pessoas. A pessoa misericordiosa tem espaço em todos os ambientes e situações. Ela irradia vida, confiança, ternura e amor.

Papa Francisco ensina: “O perdão é o sinal mais visível do amor do Pai, que Jesus quis revelar em toda a sua vida. Não há página do Evangelho que possa ser subtraída a este imperativo do amor que chega até ao perdão. Até nos últimos momentos da sua existência terrena, ao ser pregado na cruz, Jesus tem palavras de perdão: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34). Nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão. É por este motivo que nenhum de nós pode pôr condições à misericórdia; esta permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido. Por isso, não podemos correr o risco de nos opor à plena liberdade do amor com que Deus entra na vida de cada pessoa. A misericórdia é esta ação concreta do amor que, perdoando, transforma e muda a vida. É assim que se manifesta o seu mistério divino. Deus é misericordioso, a sua misericórdia é eterna, de geração em geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua própria vida.

Rezemos: Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do vosso povo na renovação da festa pascal, aumentai a graça que nos destes. E fazei que compreendamos me­lhor o batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida e o sangue que nos redimiu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, coração da misericórdia e patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Que o Deus da Misericórdia olhe compassivo para a humidade, neste tempo de pandemia Covid19. Ilumine os cientistas e médicos. Protege os enfermeiros e cuidadores. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados. 

 

Dom Juventino Kestering.

Bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga.