Vida nova em Cristo ressucitado

 

“Ele ressuscitou” é o núcleo central do dia de páscoa. No decorrer da semana os cristãos celebraram os acontecimentos na vida de Jesus: a última ceia, lavar os pés dos discípulos, a prisão de Jesus, sua condenação, a caminhada com a cruz ao Calvário e a morte entre dois ladrões. São relatos que atingem a alma das pessoas, pois é o próprio Filho de Deus, para realizar a salvação da humanidade, entregou sua vida pela salvação de todos.

Mas um fato novo irrompe na história. “No primeiro dia da Semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”. Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao e túmulo. Os dois corriam juntos, lá, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. “Então entrou já também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos”. (Jo 20,19)

Aquele que foi sepultado, já não mais permanece na sepultura, mas ressuscita. Ele está vivo e presente na história. Caminha à nossa frente. É Páscoa, a passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade, da tristeza para a alegria, do pecado para a harmonia com Deus, com as pessoas e com a humanidade.

Jesus ressuscitou. Ele está vivo. Esta é certeza que os cristãos celebram no dia de páscoa. A ressurreição renova todas as coisas. É vida nova àqueles que confiam no poder salvador e libertador de Deus.

Celebrar Cristo Ressuscitado é abrir olhos para ver o novo acontecendo onde a vida está brotando. É a esperança que volta ao coração desanimado. O ressuscitado desponta como força para tantos que se dedicam aos mais variados serviços e luz aos que trabalham em prol da paz, da defesa dos valores, do cuidado com as pessoas e a preservação do planeta.

A Páscoa de Jesus inaugurou nova perspectiva para humanidade. Tem significado de mudança, de caminhada, de processo e de libertação. Assim sepultar tudo o que oprime, machuca, destrói e fazer emergir pela força criadora de Deus o novo da justiça, da solidariedade, da partilha e da fé,

A ressurreição de Jesus sinaliza como o ponto culminante do projeto de salvação e libertação de Deus em favor da humanidade. Deus realizou a salvação e confiou à humanidade a missão de proclamar com palavras, gestos e sinais a missão salvadora trazia por Jesus. Em Cristo ressuscitado o mundo foi remido e faz ressurgir horizonte e esperança. É missão dos seguidores de Jesus levar o sentido da ressurreição aos povos, raças e culturas. E a Igreja com solenidade canta:

– Cantai, cristãos, afinal: “Salve, Ó vítima pascal!” Cordeiro inocente, o Cristo abriu-nos do Pai o aprisco.

– Por toda ovelha imolado, do mundo lava o pecado. Duelam for­te e mais forte: é a vida que enfrenta a morte.

– O rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo! Responde, pois, Ó Maria: no teu caminho o que havia?

– “Vi Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado. Os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol …

–  O Cristo, que leva aos céus, caminha à frente dos seus!” Ressuscitou de verdade. Ó rei, ó Cristo, piedade!

A humanidade será testemunha de Jesus Cristo na medida em que escutar e viver o que Jesus fez e anunciou. Assim descobre-se que o Reino de Deus consiste na eliminação de tudo que oprime a humanidade e destrói o planeta e o anúncio da vida nova que brota do “sepulcro vazio”. Celebrar a Páscoa, mesmo fora do significado religioso dos cristãos é convite para recriar a vida, dar um novo direcionamento, fazer uma “nova passagem” em busca de melhor qualidade de vida, paz, justiça e solidariedade. A páscoa ensina que a vida ressurge como valor de alcance universal, que supera as barreiras que limitam, destroem e mutilam a vida.

A narrativa da ressurreição de Jesus relata que a pedra que estava em frente ao túmulo foi removida. Para quem crê em Jesus e segue os seus caminhos, seu projeto de vida não fica estático diante das pedras e dos desafios. Vai além. Abre um novo caminho, já não mais na escuridão, mas guiado por uma luz. Neste sentido o ritual da páscoa inicia com a fogueira, símbolo da luz que brilha nas trevas e aquece os que estão pertos. Durante o período da Páscoa nas igrejas está visível o Círio Pascal, sinalizando que os cristãos são chamados a caminhar, iluminados pela luz. E a luz que ilumina e aquece a vida é Jesus.

Rezemos com a Igreja: Ó Deus, por vosso Filho unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Aos presbíteros, aos religiosos e religiosas, aos colaboradores da Diocese, aos seminaristas e vocacionadas, às famílias, aos leigos e leigas engajados nas pastorais, movimentos eclesiais e serviços, aos doentes e sofredores, aos moradores de rua, ao povo indígena, a todos os homens e mulheres de boa vontade desejo que Cristo Ressuscitado seja fonte de vida e esperança.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga