Lázaro sai para fora

Estamos no 5º domingo da quaresma. Tempo de conversão, de fraternidade, de perdão, de renascer para vida nova.

A diocese de Rondonópolis Guiratinga une-se com a dor da humanidade, neste tempo do coronavírus, e coloca-se ao lado dos que perderam seus entes queridos, dos que estão afetados pelo virus, dos que estão assustados em quarentena. Mas acima de tudo, como nos afirma o Papa, vamos “manter a confiança em Deus nesta tempestade que nos pegou de surpresa”.

Neste final de semana, pelo cuidado maior, ainda não teremos celebrações presenciais, mas as paróquias estão oferecendo muitos modos de celebrar o domingo através dos meios eletrônicos. Também é uma oportunidade para redescobrir a Igreja doméstica, a leitura da Palavra de Deus em família, a oração do terço, a via sacra e outras devoções.

A Campanha da Fraternidade com tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10-33-34) buscando estimular a o olhar compassivo com o irmão caído à beira da estrada. À luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja quer indicar para o sentido da vida como dom de Deus e compromisso que se traduz no cuidado com a pessoa, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum.

Caminhos que ajudam a viver de maneira mais intensa este tempo, assim a Campanha da Fraternidade é um momento de vida, de reflexões, de celebrações que ajudam o cristão a viver com mais firmeza a fé, a justiça, a dignidade humana.

“Ser capazes de sentir compaixão: essa é a chave. Essa é a nossa chave. Se, diante de uma pessoas necessitada, você não sente compaixão, o seu coração não se comovei significa que algo não funciona. Fique atento, estejamos atentos. Não nos deixemos levar pela insensibilidade egoística. A capacidade de compaixão se tornou a medida do cristão, ou melhor, do ensinamento de Jesus’. (Texto Base da CF 2020 nº 11): I

O evangelho deste domingo (Jo 11,1-45, apresenta a ressurreição de Lázaro. Tirem a pedra disse Jesus. A pedra do pecado, da injustiça, da exploração, da falta do cuidado do outro. E sozinho é difícil tirar a pedra. Juntos ela se torna mais leve. Tirar a pedra para que a ressurreição, a vida, a alegria, a liberdade, a vida aconteçam

Lázaro estava doente e de cama. Ele era natural de Betânia, o povoado de Maria e de sua irmã Marta. Maria era aquela que tinha ungido a Jesus com perfume, e que tinha enxugado os pés dele com os cabelos. Lázaro, que estava doente, era irmão dela. Então as irmãs mandaram a Jesus um recado que dizia: “Senhor, aquele a quem amas está doente”. Jesus disse: “Essa doença não leva para a morte, ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado”. Quando Jesus ouviu que ele estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde estava. Só então disse aos discípulos: “Vamos de novo para Judéia” Os discípulos insistiram: “Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-te, e vais de novo para lá?” Jesus respondeu: “O dia não tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não tropeça porque vê a luz do mundo. Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque lhe falta a luz”. Depois acrescentou: “O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou acorda-lo”

Os discípulos disseram: “Mas Senhor, se ele dorme, vai ficar bom”. Jesus se referia à morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que ele falasse de sono mesmo”. Então Jesus falava da morte de Lázaro para eles: “Lázaro está morto”.  Mas por causa de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que creais, mas vamos para junto dele” Então Tomé, cujo nome significa gêmeo, disse aos companheiros: «Vamos também nós para morrermos com ele”

O 5ºdomingo de quaresma é marcado pela narrativa do evangelho de João: a ressurreição de Lázaro. Narra um dos últimos episódios antes da morte de Jesus, mas ainda se prefigura a própria ressurreição do Cristo.

Os primeiros versículos ajudam a recriar a narrativa e conhecer: Lázaro, Marta e Maria, que são irmãos. Lázaro e suas eram amigos de Jesus. Lázaro, Marta e Maria representam a humanidade, a quem Jesus ama com amor total. Somos amados por Deus.

Jesus chega a Betânia quatro dias após a morte de Lázaro.. Para o povo da Bíblia, o quarto dia após a morte significa a perda total de esperança.

Em meio a essa desesperança, Marta ouviu que Jesus estava chegando saiu ao seu encontro e tomou a iniciativa de dialogar com ele. Maria permanece sentada na casa, sem força para reagir diante de tanta dor.

O diálogo com Jesus reabre a esperança. Ela pensa que se tivesse a presença física de Jesus, a morte de Lázaro teria sido evitada. “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. Mas Jesus revela a novidade: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá para sempre. Acredita nisso”?.

Papa Francisco ensina que “Todos nós temos dentro algumas zonas, algumas partes do nosso coração que não estão vivas, que estão um pouco mortas; e alguns têm mortas tantas partes do coração, uma verdadeira necrose espiritual! E nós quando temos esta situação apercebemo-nos, temos vontade de sair dela, mas não podemos. Só o poder de Jesus é capaz de nos ajudar a sair destas zonas mortas do coração, destes túmulos de pecado, que todos nós temos. Todos somos pecadores! Mas se estivermos muito apegados a estes sepulcros e os conservamos dentro de nós e não queremos que todo o nosso coração ressurja para a vida, tornamo-nos corruptos e a nossa alma começa a emanar, como diz Marta, “mau cheiro” (Jo 11, 39), o cheiro de pessoa que é apegada ao pecado. E a Quaresma é um pouco para isto. Para que todos, que somos pecadores, não acabemos apegados ao pecado, mas possamos sentir o que Jesus disse a Lázaro: «bradou em alta voz: “Lázaro, sai para fora” (Jo 11, 43).

Hoje convido-vos a pensar nisto:: onde está a minha necrose interior? Onde está a parte morta da minha alma? Onde está o meu túmulo? Pensai, qual é aquela parte do coração que se pode corromper, porque estou apegado aos pecados ou ao pecado ou a alguns pecados? E tirar a pedra, tirar a pedra da vergonha e deixar que o Senhor nos diga, como disse a Lázaro: “Sai para fora!”. Para que toda a nossa vida seja curada, ressuscite para o amor de Jesus, para a força de Jesus. Ele é capaz de nos perdoar. Todos precisamos disto! Todos. Todos somos pecadores, mas devemos estar atentos a não nos tornarmos corruptos. Pecadores somo-lo, mas Ele perdoa-nos. Sentimos aquela voz de Jesus que, com o poder de Deus, nos diz: “Sai para fora! Sai daquele túmulo que tens dentro. Sai. Eu dou-te a vida, eu torno-te feliz, abençoo-te, eu quero-te para mim».

Rezemos com a Igreja a oração da CF: Deus, nosso Pai, fonte da vida e princípio do bem viver, criastes o ser humano e lhe confiastes o mundo como um jardim a ser cultivado com amor. Dai-nos um coração acolhedor para assumir a vida como dom e compromisso. Abri nossos olhos para ver as necessidades dos nossos irmãos e irmãs, sobretudo dos mais pobres e marginalizados. Ensinai-nos a sentir a verdadeira compaixão expressa no cuidado fraterno, próprio de quem reconhece no próximo no rosto do vosso Filho.

Inspirai-nos palavras e ações para sermos construtores de uma nova sociedade, reconciliada no amor. Dai-nos a graça de vivermos em comunidades eclesiais missionárias que, compadecidas missionárias que, compadecidas vejam, se aproximem e cuidem daqueles que sofrem, a exemplo de Maria, a Senhora da Conceição Aparecida e de Santa Dulce dos Pobres, Anjo Bom do Brasil. Por Jesus, o Filho amado no Espírito, Senhor que dá a vida. Amém

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano