O cego foi lavou-se e voltou enxergando

Estamos no 4º domingo da quaresma, tempo de preparação para a celebração da Páscoa, de conversão a Deus e aos irmãos.

A Campanha da Fraternidade com tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34) buscando estimular a o olhar compassivo com o irmão caído à beira da estrada. À luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja quer indicar para o sentido da vida como dom de Deus e compromisso que se traduz no cuidado com a pessoa, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum.

O Evangelho de hoje (Jo 9,1-41) mostra a misericórdia de Jesus para com os sofredores. Ele se depara com um cego de nascença. Cego, pobre, excluído, separado da sociedade, do convívio social. Era dependente. Estava se arrastando pelo chão, pois não podia andar. Estava sozinho. Abandonado. Não diferente de tantas situações que ainda nos tempos atuais

Jesus se aproxima do cego e ordena que ele se levante. Ele se levantou e começou ver e a andar. O cego estava curado e muitas pessoas ficaram admiradas e louvavam a Deus por tamanha maravilha. Mas outros, sim, outros e muitos outros começaram a criticar Jesus. Queriam que o cego ficasse aí à margem da vida e da sociedade. Irritaram-se porque Jesus curou um cego, um pobre, um desvalido.

Ainda hoje há muita gente que pensa que os bens do mundo, as riquezas, as benesses da vida são privilégios de poucos. E estes poucos ficaram irritados quando índios, sem terra, sem teto, nativos e ribeirinhos, moradores de rua, pequenos agricultores, a multidão dos desempregados reclamam seus direitos e levantam a voz. Logo há as forças beneficiadas que querem abafar o grito dos sofredores e querem eliminar os pobres, doentes, sem assistência, sem perspectivas de trabalho. É comum escutar expressões: “Os índios só atrapalham, não ajudam em nada. Os pobres deviam desaparecer, os presos executados, os desvalidos excluídos para que a cidade fique limpa”.

Jesus nunca relativizou a dor e a aflição humana. Foi ao encontro das pessoas acolhendo a miséria alheia”. Jesus, atento ao clamor dos sofredores que clamavam: “tem compaixão de nós”. Jesus não permaneceu indiferente ao sofrimento do outro; curou o cego de nascença, a sogra de Pedro; o homem da mão seca disse: “Levanta-te! Vem para o meio”. A mulher doente assim Jesus falou: “Mulher, estás livre da tua doença”; percebendo a comoção que se seguiu à morte de Lázaro, “Jesus teve lágrimas”. Indignou-se com a indiferença e dureza de coração daqueles que ignoravam o sofrimento alheio: “Passando sobre eles um olhar irado, e entristecido pela dureza de seus corações, disse ao homem: ‘Estende a mão”. Jesus age movido pela compaixão: “Encheu-se de compaixão por eles curou os que estavam doentes”. Sentiu compaixão do leproso, dos cegos, dos famintos, dos abandonados como ovelhas sem pastor.

Jesus ensina que a compaixão implica em sofrer a dor do outro, com o outro, mas para ajudar a tirar daquela situação: “Tive fome, tive sede, estive preso, estava nu”. Deus, em Jesus, se expõe à dor das criaturas, se deixa afetar: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único”. Deus se doa e se esvazia para estar junto da humanidade sofredora. Jesus é a experiência definitiva da com paixão de Deus pelos sofredores.

No trato das pessoas em seus sofrimentos e necessidades, Jesus é movido pela compaixão. Nele vemos que a compaixão não é mero sentimento, mas reação firme e eficaz diante da dor alheia. São atitudes e estilo de vida. O samaritano age tomado de compaixão. O pai, cheio de compaixão, acolhe o filho pródigo. Compaixão e misericórdia, expressões maiores da nossa imagem e semelhança com Deus: “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”. A supressão da miséria humana, da dor, da exploração e de todo tipo de desumanidade constitui uma urgente tarefa. Que os discípulos missionários se compadeçam dos que sofrem, estão tristes, abandonados, sem perspectiva de vidas.

São Paulo aos Efésios (5,8-12) nos ensina: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as aberta”

Com a Igreja rezemos a oração da Campanha da Fraternidade 2020: “Deus, nosso Pai, fonte da vida e princípio do bem viver, criastes o ser humano e lhe confiastes o mundo como um jardim a ser cultivado com amor. Dai-nos um coração acolhedor para assumir a vida como dom e compromisso. Abri nossos olhos para ver as necessidades dos nossos irmãos e irmãs, sobretudo dos mais pobres e marginalizados. Ensinai-nos a sentir a verdadeira compaixão expressa no cuidado fraterno, próprio de quem reconhece no próximo no rosto do vosso Filho.

Inspirai-nos palavras e ações para sermos construtores de uma nova sociedade, reconciliada no amor. Dai-nos a graça de vivermos em comunidades eclesiais missionárias que, compadecidas missionárias que, compadecidas vejam, se aproximem e cuidem daqueles que sofrem, a exemplo de Maria, a Senhora da Conceição Aparecida e de Santa Dulce dos Pobres, Anjo Bom do Brasil. Por Jesus, o Filho amado no Espírito, Senhor que dá a vida. Amém

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga.