Poço lugar de Revelações e de Encontro

POÇO – LUGAR DE REVELAÇÕES E DE ENCONTRO

 

Estamos nos aproximando cada vez mais da Páscoa do Senhor. Já estamos no 3º domingo da quaresma. Tempo de conversão, tempo de Campanha da Fraternidade com tema: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10-33-34) buscando estimular a o olhar compassivo com o irmão caído à beira da estrada. À luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja quer indicar para o sentido da vida como dom de Deus e compromisso que se traduz no cuidado com a pessoa, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum.

O Texto Base da Campanha da Fraternidade, números 16 e 17 assim ensina: “Quaresma é tempo favorável para sairmos de nossa alienação existencial causada pelo pecado.’ Tempo de abertura ao mistério da dor e da morte, da cruz, do Crucificado, Vencedor da morte. Nele somos conduzidos à graça da vida plena, que é o encontro com Deus e a aceitação de sua vontade salvífica. Por essa razão, o Evangelho abre nossos olhos para vermos a grandeza e a profundidade do viver em Cristo. Graças à escuta da Palavra de Deus, percorremos um itinerário que nos deixa intuir a preciosidade da existência cristã e vivermos na liberdade e na verdade de sermos filhas e filhos de Deus. A escuta também é profecia: escutar a voz de Deus em sua Palavra e ouvir a palavra daqueles que já não conseguem dizer nada!

A Igreja nos recorda que esse caminho de vida nova em Cristo e com Cristo pede jejum, oração e esmola. O jejum ajuda a esvaziar-se, abrir-se ao outro. No vazio de nós mesmos, somos fecundados pela gratuidade da vida. Jesus crucificado, vazio de si, é entrega suave-sofrida ao Pai: “em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,45). No jejum somos reintegrados! A oração, diálogo de amor, de amizade, é aproximação, nova relação, exposição; ocasião em que somos tocados pela amorosidade de Deus. Uma súplica de afeto e amor: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46). Esmola: partilha de vida, cuidado amoroso, liberdade de entrega! A esmola é encontro com o próximo; é exercício de compromisso com o dom da vida, pois, “para o outro, o próximo é você” (CF 1969).

Neste domingo, no Evangelho (Jo 4,1-42) Jesus nos surpreende com o diálogo com a Samaritana ao lado do Poço.  Ele fascina com sua catequese particular, dirigindo-se a uma pessoa marginalizada, quebrando preconceitos e tradições, num horário que para muito é impróprio – hora do almoço, hora do sol mais quente. Mas Ele vai, Ele está disposto a fazer-se sedento de água justamente naquela hora. Hora da luz, hora romper distância entre as culturas, hora de romper silêncio e distanciamento entre homem e mulher. É bem nessa hora que o Messias apressa a hora de Deus.

Nem mesmo cântaro, balde, Ele tem para tirar água. Sua necessidade facilita o diálogo, a aproximação. “Dá-me de beber”. O grito pela sede. Sede de Deus, sede de Justiça, sede de emprego, sede de paz na família, sede… Simplesmente sede. Sua simplicidade faz dele um homem comum, contudo, aos poucos ele também deseja oferecer outra água à mulher. O encontro acontece. O diálogo se estabelece a partir de uma necessidade básica da vida. Mas Jesus ajuda a dar um passo novo, um sentido renovado para “poço, sede”. Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado? Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna (Jo, 4,10).

E se estabelece um dialogo de conversão, de sinceridade, de acolhimento, de ternura, de bondade, de misericórdia. “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que lhe darei se tornará nele fonte de água que jorra para a vida eterna” (Jo 4,13). A mulher também é sincera em suas palavras. Sua transparência agiliza a apresentação de Jesus. Jesus é aquele que reintegra a mulher na sociedade. A mulher por sua vez, demonstra sua tamanha fé no Messias, não guarda essa alegria somente para si, mas sai correndo, vai e anuncia essa novidade a todo o vilarejo onde mora. Com o anúncio da mulher, Jesus é convidado a conviver na Samaria, a estar junto com aquele povo.

Temos sede de Deus. O povo de Deus fez a experiência da falta de água no deserto e reclamou para Moisés, este procurou Deus e solicitou ajuda jorrando água da pedra seca. E Deus fez brotar água da rocha para saciar a sede de muitas pessoas. Ninguém consegue ficar sem água. Jesus foi batizado nas águas do rio Jordão. O poço de Jacó serviu para a mudança de vida da Samaritana e o sentido da sede, do poço e da água para a experiência de fé e de conversão. Jesus quer ser essa fonte de água que nos perceber a presença de Deus em nossa vida.  A água faz parte da nossa vida, mesmo ainda antes do nascimento, pois somos envolvidos numa bolsa de água. E para o novo nascimento, somos batizados na água, mergulhados em Cristo, para nos tornarmos uma nova criatura.

Papa Francisco ensina: “O Evangelho diz que os discípulos ficaram maravilhados que o seu Mestre tenha falado com aquela mulher. Mas, “o Senhor é maior do que os preconceitos. E isto devemos aprender bem, pois a misericórdia é maior do que os preconceitos”. E o resultado do encontro junto ao poço foi o de uma mulher transformada”. “Deixou o seu jarro com o qual ia buscar água e correu à cidade para contar a sua experiência extraordinária. ‘Encontrei um homem que me disse todas as coisas que eu fiz. Era o Messias? Estava entusiasmada. Foi buscar água no poço, e encontrou outra água, a água viva da misericórdia que jorra para a vida eterna. Encontrou a água que sempre procurou! Corre ao vilarejo, aquele vilarejo que a julgava, a condenava e a rejeitava, e anuncia que encontrou o Messias: alguém que mudou a sua vida. Pois cada encontro com Jesus nos muda a vida, sempre. É um passo em frente, um passo mais próximo a Deus”. São Paulo nos escreve em sua carta, (Rm 5,2-8) que “a esperança não decepciona, porque o amor de deus foi derramado em nossos corações pelo Espirito Santo que nos foi dado”. Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores”. Á água nos purifica, em Jesus nos renovamos, e espalhamos o bom perfume, a todas as pessoas. Com Ele, manifestamos a nossa beleza e nos encorajamos a ir ao encontro dos marginalizados e excluídos. Nele e por Ele, enfrentamos sol e chuva para fazer acontecer a hora de Deus.

Com a Igreja rezemos a oração da Campanha da Fraternidade 2020: “Deus, nosso Pai, fonte da vida e princípio do bem viver, criastes o ser humano e lhe confiastes o mundo como um jardim a ser cultivado com amor. Dai-nos um coração acolhedor para assumir a vida como dom e compromisso. Abri nossos olhos para ver as necessidades dos nossos irmãos e irmãs, sobretudo dos mais pobres e marginalizados.

 Ensinai-nos a sentir a verdadeira compaixão expressa no cuidado fraterno, próprio de quem reconhece no próximo no rosto do vosso Filho. Inspirai-nos palavras e ações para sermos construtores de uma nova sociedade, reconciliada no amor. Dai-nos a graça de vivermos em comunidades eclesiais missionárias que, compadecidas missionárias que, compadecidas vejam, se aproximem e cuidem daqueles que sofrem, a exemplo de Maria, a Senhora da Conceição Aparecida e de Santa Dulce dos Pobres, Anjo Bom do Brasil. Por Jesus, o Filho amado no Espírito, Senhor que dá a vida. Amém

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano