“Eis o tempo de conversão; Eis o dia da salvação; Ao pai voltemos, juntos andemos. Eis o tempo de conversão”. Assim a comunidade cristã canta já no amanhecer do dia  26 de fevereiro, quarta feira de cinzas, início da quaresma.

O Profeta Joel (Jl 2,12-18) exorta: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”.

É tempo da quaresma que se inicia hoje com o rito das cinzas. Inclinamos nossas cabeças diante de Jesus e fizemos a experiência da cinza. A cinza se produz a partir da queima. Mas das cinzas brota vida nova, renovada, em conversão. Desde o início de cristianismo, a Quaresma constitui-se num tempo próprio para aqueles que vão ser batizados na Vigília Pascal e iniciados na vida dos sacramentos, da comunidade e do jeito de ser cristão,

É tempo em que a Igreja convida seus filhos e filhas a prepararem a Páscoa através de uma vida sóbria, com orações, com gestos de penitência, de justiça, de ética e de fraternidade. Tempo de convite para que o cristão se deixe “purificar do velho fermento para ser uma massa nova, levedada pela verdade” (1Cor 5,7-8). Tempo de conversão ao projeto de Deus, acolhendo sua Palavra, indo ao encontro do irmão especialmente os mais necessitados. “A Quaresma nos chama à reconciliação, à mudança de vida, a assumir a busca da humanidade por libertação, justiça, dignidade, reconciliação e paz. Alargar o coração, trazendo a Deus o clamor sempre mais forte do universo, que anseia por vida e liberdade, aguardando a plena manifestação dos filhos e filhas de Deus”. Quaresma propõe vida solidária à paixão de Cristo e solidária à paixão da humanidade, que sofre sem rumo, uns oprimindo, outros sendo oprimidos.

Nesta perspectiva a Igreja propõe neste ano a Campanha da Fraternidade com tema “Fraternidade e vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10-33-34) buscando estimular a o olhar compassivo com o irmão caído à beira da estrada. À luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja quer  indicar para o sentido da vida como dom de Deus e compromisso que se traduz no cuidado com a pessoa, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum

A Campanha da Fraternidade 2020 tem início em todo o país nesta quarta feira de cinzas. Assim a Igreja ensina que a “Vida é compromisso fraterno! A vida como dom nos conduz a um compromisso. Despertamos para a responsabilidade de nossa existência e de todas as criaturas. Compromisso como promessa de permanecer junto de, comprometer-se com. É o que lemos e vemos na parábola do bom samaritano. Ele permanece junto ao assaltado e garante-lhe acolhimento e cuidado: VER, SENTIR COMPAIXÃO e CUIDAR serão os verbos de ação que nos conduzirão no tempo quaresmal. Que possamos nos dispor a uma profunda conversão da cultura da morte para a cultura da vida.

A Comissão Nacional da CF preparou o texto-base, que contou com a participação e contribuição de vários especialistas e pesquisadores, bem como com a consulta a lideranças de movimentos e entidades sociais. Dividido no método ver, julgar e agir, o subsídio aponta uma série de iniciativas que ajudarão a colocar em prática as propostas incentivadas pela Campanha. A Campanha da Fraternidade enfoca a atitude do cristão a partir de um problema que afeta “a vida é um dom que recebemos de Deus e que somos chamados a partilhar em busca da plenitude: “De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,l6). Deus tudo disse no seu Verbo encarnado: “Cristo, o Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai” (CIC, n. 65). Eis o nosso compromisso para com essa vida, dom de Deus: levá-la à plenitude de Cristo. Criados à sua imagem e semelhança, somos filhos no Filho e os seus gestos de fraternidade nos ensinam este caminho: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10.33)

Vida é Dom de Deus! “Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10) .Jesus Cristo não apenas anunciou, mas Ele mesmo é a plenitude, a consumação de toda a vida. O seu viver, sua pregação, sua morte e Ressurreição despertam para o sentido da vida e, assim, Ele mesmo se revela para nós como o Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,16).

Quarta feira de cinzas é dia penitencia, de jejum, de abstinência de proteínas animais. É um gesto de solidariedade com o mundo que sofre, com as populações que passam fome, com os rostos sofridos da humanidade. Mas não basta um dia de jejum e abstinência de carne, é preciso converter o coração, arrancar as injustiças e opressões e buscar caminhos para um mundo novo.

Rezemos com a Igreja: Concedei-nos, Senhor, a graça de começar com santo jejum este tempo da Quaresma, para que, no combate contra o espírito do mal, sejamos fortalecidos com o auxílio da temperança. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga