Caminho a percorrer

Estamos no VI domingo do Tempo Comum. A cor dos paramentos e do espaço litúrgico é verde, sinal de vida, de esperança na certeza de que Jesus está presente na comunidade. É Ele que revela sua palavra e molda no nosso modo de ser como cristãos.

A Palavra de Deus (Mt 5,17-37) é a continuação do Sermão da Montanha. Jesus propõe novas atitudes diante da lei, da justiça, do perdão, do adultério, da corrução, do egoísmo, da ira, da agressão. O Evangelho nos coloca num divisor de águas: É o empenho do cristão em escolher o que constrói a vida, a família, a comunidade, a sociedade ou trilhar pelos caminhos adversos da ira, das maldições, das traições, do abandono da comunidade. Essa escolha passa por conversão do coração. Não há escolha sem conversão, sem motivações, sem vontade de realmente assumir novas posturas e novos compromissos na vida. No evangelho Jesus ensina o caminho que se deve percorrer, se queremos permanecer Nele e Ele em nós. Jesus alerta sobre o perigo de nos deixar contaminar pela mentalidade e atitudes da falsidade, do ódio, da ira, da vingança, do adultério, da falsidade presentes nos dias de hoje na sociedade.

No mundo moderno, este texto da Palavra de Deus se apresenta como contraditório, pois a tendência é o individualismo, consumismo, o voltar-se para si, a busca de prazer, de satisfação, de visibilidade. O desejo de posse das coisas, a agilidade dos eletrônicos, dos computadores absorve as pessoas a ponto de esquecerem-se dos outros. Daí decorre a realidade em que poucas pessoas se visitam. Os doentes são esquecidos, os cumprimentos com bom dia estão desaparecendo, o diálogo está cada vez mais difícil.  Neste contexto os valores do Evangelho vão se diluindo e vida torna-se vazia, sem sentido, sem motivações. Daí brota o stress, a violência, a insatisfação, a tristeza, o cansaço a vida sem motivação, o isolamento.

O Evangelho mostra que “as leis de organização social e religiosas têm validade se forem elaboradas em favor da vida. E Jesus veio para promover a vida, a justiça, libertar e fazer desabrochar a vida.  Jesus deixa claro que a vida esta acima de toda e qualquer  lei. “Se a vossa justiça, não for maior que a justiça dos mestres da lei  e dos fariseus, vós não entrareis no reino dos céus.” Para sair dessa realidade Jesus propõe novos caminhos: “Quem praticar e ensinar, será considerado grande no reino dos céus”.

 A escuta da Palavra de Deus precisa descer na profundeza do coração e modificar as atitudes de vida, contrárias ao Evangelho. A nossa fé, a vida cotidiana, a caridade com os irmãos, o testemunho de vida, a defesa da justiça, a participação na comunidade nasce de um relacionamento pessoal com Deus e com os irmãos. Jesus viveu esta realidade. Sua vida era voltada para o Pai, para a missão, para o anúncio da Boa Nova, mas ao mesmo tempo seu coração acolhia os pobres, os leprosos, os famintos, os esquecidos da sociedade, as multidões que o procuravam. De seu coração e de suas palavras brotava esperança, vida, conversão, encontro com Deus, amor às pessoas, vida nova. Jesus é a nova e definitiva lei do amor que exige conversão do coração para aderir a este modo de viver. A conversão é atitude que parte do coração, que recebe a força do Espírito Santo que nos impulsiona para deixar a vida medíocre e avançar em novo caminho voltado para Deus e para os irmãos. Essa nova atitude do coração Jesus sintetizou numa frase: “Quando tiveres levanto tua oferta para o altar e te lembrares que teu irmão tem coisa contra ti, deixa tua oferta aí diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão”. Por vezes queremos que a graça de Deus atue em nós, mas de nossa parte estamos com o coração travado pelo ódio, pelas inimizades, pela falta de acolhimento, de perdão, de abraço. Perdoar é experimentar o alivio no coração, o olhar sereno e franco, o sorriso que transmite alegria, novo ânimo para a vida. Ser cristão católico é viver a alegria da certeza de que somos amados por Jesus. Ele passa a ser a razão do viver e do esforço de seguir o caminho de Jesus em cada momento da vida. Ser cristão é irradiar a luz que vem de Deus,

Rezar com a Igreja: Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga.