A luz não ilumina a si mesma

 Estamos no 5º domingo do tempo comum. A cor dos paramentos e do espaço celebrativo é verde, sinal de esperança e de vida.

A Palavra de Deus (MT 5,13-16) nos interpela para duas direções: “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens”. Assim como o sal na sua medida certa tem a função de preservar os alimentos e dar sabor, do mesmo modo o cristão é chamado a temperar a sua vida com equilíbrio, sobriedade, ética, justiça, integrando na harmonia sua vida em relação a Deus, à comunidade, aos outros, à família e a si mesmo. Como o sal, o discípulo e seguidor de Jesus Cristo deve preservar-se da corrupção e do pecado. Onde estão os cristãos católicos com fé viva, não pode haver injustiças, violências, corrupção, maldades, guerras, homicídios, descaso da dignidade da pessoa humana.

Ensina o Papa Francisco: “O sal se torna sal quando se doa. E esta é outra atitude do cristão: doar-se, dar sabor à vida dos outros, dar sabor com a mensagem do Evangelho. Doar-se. Não preservar si mesmo. O sal não é para o cristão, é para doar. O cristão recebe para doá-lo, mas não para si mesmo. Os dois – isso é curioso –, luz e sal, são para os outros, não para si mesmo. A luz não ilumina a si mesma; o sal não dá sabor por si só” (Francisco 06.7.16)

O Evangelho continua: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha, nem se acende uma luz para colocá-la debaixo da mesa, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa”. Essa é uma insistência continua de Jesus Cristo: Ser luz, brilhar, ser sinal de esperança e de vida no meio da escuridão. Quando estamos na total penumbra há insegurança, medo, choro de crianças; as pessoas procuram se juntarem. Qualquer ruído causa pânico. Mas basta acender uma pequena chama com palito de fósforo ou com um celular que o ambiente muda. Retorna a confiança, afugenta o medo, sorrisos de alegria, confiança e segurança.

Jesus nos oferece o desafio. Todo batizado, seguidor de Jesus Cristo tem a missão de iluminar o mundo, para que brilhe a paz, a alegria, esperança, pão na mesa, segurança nas ruas, fé, amor a Deus e aos irmãos. “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus”. Papa Francisco continua: “Ilumina com a sua luz, mas defenda-se da tentação de iluminar a você mesmo. Isto é uma coisa feia, é um pouco como a espiritualidade do espelho: ilumino a mim mesmo. Defenda-se da tentação de cuidar de si mesmo. Seja luz para iluminar, seja sal para dar sabor e conservar”. O sal e a luz “não são para si mesmos”, são para dar aos outros “boas obras”. E assim, exortou, “resplandeça a sua luz diante dos homens. Para que? Para que vejam as suas boas obras e glorifiquem o seu Pai, que está nos céus. Ou seja: retornar Àquele que lhe deu a luz e lhe deu o sal”. “Que o Senhor nos ajude nisso, a cuidar sempre da luz, a não escondê-la, mas colocá-la em prática”. E o sal… “dar o justo, o necessário, mas doá-lo”, porque assim não acaba. “Estas – concluiu – são as boas obras do cristão”

Deixar resplandecer a caridade com toda a força, a preocupação pelo outro, a solidariedade, a generosidade, pois o cristão é a luz do mundo. É a tocha acesa. Com o exemplo de sua vida leva a luz da verdade a todos os cantos do mundo, mostrando o caminho da salvação, do perdão, da acolhida.  Onde há escuridão, incertezas, dúvidas e descrenças, nasce a claridade, a certeza e a segurança, pois Jesus é a luz do mundo que brilha. Para ser “sal da terra e luz do mundo”, o profeta Isaias (Is 56, 7-70) dá um indicativo: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrardes um nu, cobre-o e não o desprezes. Então, brilhará a tua luz como aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá”. Ser sal da terra e luz do mundo é algo fundamental para a vida. Esta chama da luz e o sabor do sal recebemos no nosso batismo. Uma vela acesa foi entregue simbolizando que a luz de Jesus que acompanha por toda vida. Em cada momento o cristão é chamado a ser luz. Mas a luz deve iluminar e não ser colocada debaixo da mesa. Por isso cada atitude do cristão se transforma em gestos concretos como ensina o profeta Isaias: Repartir o pão, acolher os necessitados, implantar a justiça e o direito, curar as feridas.  São Paulo (1Cor 2,5) resume sua experiência de ser evangelizador, de anunciar aquele que é a Luz: “Minha palavra e minha pregação não tinham brilho nem artifícios para seduzir os ouvintes, mas a demonstração residia no poder de Deus”.

Rezar com a Igreja: Velai, ó Deus, sobre a vossa família, com incansável amor; e, como só confiamos assa graça, guardai-nos sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano