Sagrada Família

 JESUS, MARIA E JOSÉ,

Neste primeiro domingo após o Natal (29:12) a Igreja celebra na liturgia a Sagrada Família de Nazaré. Jesus nasceu simples e pobre na gruta em Belém, mas sentiu o amor e carinho da família de Nazaré: Jesus, Maria e José.

Papa João Paulo II, na Carta às Famílias, chamou a família de “Santuário da vida” (CF, 11). Santuário quer dizer: lugar sagrado, espaço de respeito, de diálogo, de perdão, de mútuo crescimento humano, afetivo e espiritual. É neste espaço que a vida é gerada. Desde o berço as crianças aprendem o caminho do respeito, da fé, do amor a Deus e aos irmãos. “A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS, 47). As Diretrizes da CNBB (2017-2022) insiste na família, na casa como espaço de encontro, de ternura, das famílias, lugar de portas abertas

A Palavra de Deus (Mt, 2,13-23) adentra numa realidade concreta das famílias. “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. José recebe de Deus a responsabilidade de pai e esposo, de cuidador e defensor da vida, de tomar o menino e sua mãe e fugir para salvar o menino. Assume esta realidade e migra para o Egito. José se apresenta como responsável com a sua família e cuida dela, desempenhando o papel de protetor, de cuidador. É exemplo para tantos pais que já não se preocupam com seus filhos. Em juras de amor, geram um filho, mas depois não assumem a missão. Abandonam a esposa ou a companheira. Deixam a responsabilidade para a mãe.

Uma criança é linda, mas frágil e sem força. Não pode se defender sozinha. Para sobreviver, depende do cuidado, da ajuda dos pais. Muitas crianças são vítimas da própria incapacidade de se defender, do descuido da família e da sociedade. Milhares de crianças não chegam a nascer, são abortadas e trucidadas no seio da mãe; outras, são jogadas em rios, no lixo; são maltratadas, vendidas, abandonadas. Quando a sociedade perde o amor e a defesa das crianças é porque ela está doente, sem valores e sem referencial de dignidade humana.

O menino Jesus, apesar de ter nascido numa gruta fria e longe da cidade, recebeu carinho e ternura da mãe, de José e dos pastores vizinhos. Até os reis do Oriente o vieram visitar. Mas o coração de Herodes fervia de ódio. Resolveu matar as crianças. Assim o menino Jesus correu risco de vida. No Evangelho percebemos o drama do exílio e da migração que a Sagrada Família teve de experimentar para escapar da matança cruel que Herodes tinha ordenado a fim de eliminar Jesus, a quem considerava um rival apesar de sua pouca idade. “José, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito, pois Herodes quer matar o menino”. Mas, Deus o protege através de José e Maria.

Fico pensando na dor e lágrima das crianças que catam alimentos em lixo, da dor das crianças exploradas sexualmente, a dor das crianças que vêem o pai ou a mãe abandonarem o lar, a dor da criança migrante sem casa, sem residência fixa, acompanha seus pais de fazenda em fazenda a procura de sobrevivência; a dor da criança com câncer, com insuficiência renal, a criança presa em apartamento, as crianças sem espaço para educação infantil, a criança que passa diante de lojas, sorveterias, mercados e restaurante, mas carece de recursos para uma alimentação. Criança. Simplesmente criança. E qual o coração humano que não se sensibiliza diante do sofrimento de uma criança!

Apesar de todos os desafios dos tempos atuais para educar uma família, o ideal deve sempre ser mantido: O relacionamento dialogal entre pais e filhos e o clima de harmonia na família. Tudo aquilo que uma criança vivencia, experimenta, percebe dentro de seu lar, marca para a vida em todas as suas etapas. É na família nascem os valores, a ética, a justiça, a honestidade, da fé e o amor aos irmãos.

O livro do Eclesiástico (3, 3-14) traz belas palavras. “Deus honra o pai nos filhos e confirma sobre eles a autoridade da mãe. Quem respeita o seu pai terá vida longa e quem obedece ao seu pai é o consolo de sua mãe”. Honrar pai e mãe além de ser um mandamento é caminho para a harmonia na vida dos filhos. O livro do Eclesiástico ainda continua: “Não humilhes os pais nos dias de sua velhice. A caridade feita com teu pai e tua mãe não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados e na justiça será tua edificação”. Um exemplo edificante é quando os filhos, os netos e bisnetos cuidam com amor e carinho seus pais, avós e bisavós. O autor do Eclesiástico lembra o mandamento da lei mosaica que pede claramente para honrar o pai e a mãe e ainda esclarece que para isso é necessário que os pais amem os filhos.

Neste dia em que a Igreja lembra a Sagrada Família de Nazaré, a Palavra de Deus faz refletir sobre o nosso modo de ser na família. Ela é o ninho sagrado, espaço de amor e de diálogo, ambiente de ternura e proximidade, o melhor lugar do mundo para viver.

Rezemos todos pelas famílias: Deus, nosso Pai, / vós quises­tes habitar numa família humana. / Abençoai os pais, as mães, os filhos e filhas. / Protegei nossas famílias dos males e perigos. / Ajudai-nos a pro­mover nas famílias, / em todos os la­res de nosso país, / os sentimentos e os propósitos / de união, amor gene­roso, fidelidade permanente / e per­severança constante na vossa graça.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano