“Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá. E todo aquele que vive e crê em mim jamais morrerá” (10 11,24).

E OS FALECIDOS SÃO LEMBRADOS

Impressiona a atitude das pessoas, no dia de finados, andando pelo cemitério, carregando flores, acendendo velas, enlevando a Deus uma prece diante de um túmulo de um ente querido. Todas as vaidades cessam, as riquezas e honras tornam-se secundárias. É a experiência da transitoriedade da vida. O olhar de criança, do jovem e do ancião volta-se para o infinito e para o mistério da vida.

A canção diz que “a vida, para quem acredita, não é passageira ilusão. A morte se torna bendita porque é a nossa libertação. Nós cremos na vida eterna e na feliz ressurreição. Quando de volta à casa paterna, com o Pai, os filhos e filhas se encontrarão”.  O mistério da morte, a busca de eternizar a vida e a necessidade de fazer túmulos é uma das características de todos os povos, raças e culturas. Profanar os túmulos, ridicularizar os ritos fúnebres e desrespeitar mortos são ações rejeitadas pela sociedade e fonte de litígio.

Recordo neste momento as palavras de Steve Jobs num discurso de formatura em 2005. “Se viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último”. Essa frase me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim no espelho toda manhã e me pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje? E a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa. Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar – caem diante da morte, deixando a o que é mais importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensa que você tem algo a perder. Você já esta nu. Não há razão para não seguir o seu coração. Porque a morte e muito provavelmente a principal invenção da vida. E agente de mudança de vida da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradativamente se tornará um velho e será varrido“.

Para os cristãos, a morte adquiriu novo significado a partir de Jesus Cristo. “Como Jesus morreu e ressuscitou, Deus ressuscitará os que nele morreram. E, como todos morrem em Adão, todos em Cristo terão a vida” (ITes 4,14).

Professamos no credo: “Creio na ressurreição dos mortos e creio na vida eterna”. Aqui está um núcleo central da nossa vida e da esperança. A vida vem de Deus e volta para Deus. A morte é um processo natural de todos os seres viventes. Para o cristão, a morte, ainda que seja experiência dolorida, é a passagem para a verdadeira vida. “Nós cremos na vida eterna, por isso cremos que após a morte nossa “vida continua junto de Deus na eternidade”.

Por ocasião da ressurreição de Lázaro, Jesus afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá. E todo aquele que vive e crê em mim jamais morrerá” (10 11,24). Jesus veio trazer a vida. Vida plena. Vida em abundância. “Eu vim para que todos tenham vida” (l 10,10). Ressuscitar é ganhar de graça a plenitude da vida, a realização plena de todos os nossos sonhos e projetos. É Deus quem garante esta realidade.

A tradição católica sempre valorizou o respeito ao cemitério, o sepultamento com simplicidade, mas com dignidade, as manifestações humanas junto aos túmulos como flores, uma vera acesa, uma cruz, bem como a prece em favor dos que partiram. Cremos que há uma unidade entre a nossa vida e a vida dos que morreram.

Rezemos com a Igreja: “Senhor, que a luz eterna os ilumine no convívio dos vossos santos, porque sois bom. Dai-lhes, Senhor, o repouso eterno e brilhe para eles a vossa luz no convívio dos vossos santos, porque sois bom” (Esd 2,34-35).

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano

 

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