Qual é o lugar que o dinheiro ocupa em sua vida?

Estamos no 25º domingo do tempo comum. A cor litúrgica do espaço celebrativo e dos paramentos são verdes. Tempo de viver como Igreja e de evangelizar. Mês da Palavra de Deus que é luz e vida.

A Palavra de Deus (Lc 16, 1-13) aponta para uma realidade concreta: O uso do dinheiro, a honestidade e a sinceridade. Jesus estava instruindo os discípulos. Para melhor compreensão contou uma parábola. Em síntese: Um homem rico tinha um administrador que lhe devia uma conta. O homem rico exigiu o pagamento. Como ele não tinha com que pagar começou a chorar e suplicar para que a dívida fosse parcelada. Mas por sua vez esse começou a chamar os outros devedores e rasurou as contas pela metade.  O patrão percebeu a desonestidade do administrador.

A partir deste episódio, Jesus inicia seu ensinamento sobre o mau uso do dinheiro, acumulação, corrução e roubo. O dinheiro acumulado é injusto porque é tira de quem precisa. Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes. Se, pois, não tiverdes sido fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará às verdadeiras” adverte Jesus. A questão do uso do dinheiro está em pauta em todas as reivindicações. A população sente-se cansada pelos escândalos de mau uso do dinheiro e da corrução em detrimento da saúde, educação, estradas, segurança, moradia, qualidade de vida. Papa Francisco admoesta: “A economia deveria ser a arte de alcançar uma adequada administração da casa comum, que é o mundo inteiro” (EG 206).

São Tiago (1,1-6) alerta: “Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão. Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça. Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor. Tendes vivido em delícias e em dissoluções sobre a terra, e saciastes os vossos corações para o dia da desolação! Condenastes e matastes o justo, e ele não vos resistiu”. Há uma frase que diz: “dinheiro não tem alma, não tem compaixão, sentimento e não chora”. O dinheiro acumulado é tirado dos que necessitam dos benefícios públicos. É injusto, pessoas, grupos e corporações com muito dinheiro e outras passando fome. Na perspectiva do Reino de Deus ninguém deve passar fome. É por esta razão que a Igreja Católica critica o modelo econômico neoliberal adotado pelas grandes economias do mundo, porque está criando um mundo desigual, aumentando o fosso entre ricos e pobres e levando populações inteiras a conflitos, miséria e morte.

O Papa Francisco exorta: “O crescimento equitativo é mais do que o crescimento econômico; requer decisões, programas, mecanismos e processos orientados para melhor distribuição das entradas, para a criação de oportunidades de trabalho, para uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencialismo. A economia não pode recorrer a remédios que são um novo veneno para o povo quando se pretende aumentar a rentabilidade, reduzindo o mercado de trabalho e criando novos excluídos (cf EG 205). O ser humano necessita de recursos, mas sem ganância. Deus gosta dos simples e dos humildes mesmo que tenha recursos acumulados através da ética e da honestidade. O Profeta Amós (8,5-6) faz uma reflexão interrogante. “Vocês ficam maquinando: “Quando vai passar a festa da lua nova, para podermos pôr à venda o nosso trigo? Quando vai passar o sábado, para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança, para comprar os fracos por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo?”  A ambição é um instrumento de idolatria, porque caminha na direção contraria que Deus traçou para nós. São Paulo  diz que Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre para nos enriquecer. “A ambição é um instrumento de idolatria, porque caminha na direção contraria que Deus traçou para nós. São Paulo nos diz que Jesus Cristo, que era rico, se fez pobre para nos enriquecer. Este é o caminho de Deus: a humanidade, o abaixar-se para servir. A ambição nos leva para a estrada contrária. É a idolatria” (Francisco).

Há uma busca desenfreada pelo ganho. Trabalha-se nos domingos, feriados, de dia e de noite. Há trabalhos essenciais, mas muitos são meramente especulativos e lucrativos. A família não tem mais domingo, dia de folga, dia de lazer, dia de celebração. Os bens da natureza e os produzidos pelo trabalho do homem e da mulher são úteis e necessários. Mas devem estar a serviço da vida e do bem de todos. As cifras de miseráveis, de moradores de rua, de refugiados das guerras e dos conflitos étnicos são alarmantes.

Rezemos com a Igreja: Ó Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso manda­mento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering,

Bispo diocesano