O Amor ao próximo

SER MISERICORDIOSO COMO VOSSO PAI 

 

Estamos no 15ª domingo do tempo comum. A cor do espaço celebrativo e dos paramentos é verde. Nesta semana rendo graças a Deus porque completo 46 anos de ordenação sacerdotal. 14 de julho de 1973 – 14 de julho de 2019. Dou graças Senhor por todos os benefícios que Deus tem me concedido nestes 46 anos de ministério presbiteral. Com a meta: “Enviou-me para evangelizar” assumi o ministério e sempre tenho me colocado a serviço onde Deus me chamou para a missão.

A palavra de Deus (Lc 10,25-37) nos relata uma das parábolas conhecidas, encenadas e proclamadas: O bom Samaritano. O contexto da parábola começou porque um Mestre da lei fez uma pergunta a Jesus: “O que devo fazer para ganhar a vida eterna”? Jesus não respondeu com um conceito, com uma longa explicação, mas fez uma nova pergunta: “O que dizem os mandamentos”: O Mestre da lei conhecedor das Escrituras prontamente respondeu: “Amar a Deus acima de tudo e amar ao próximo como a si mesmo”. O Mestre da Lei perguntou novamente: “Mas quem é o próximo”. Neste momento Jesus contou a parábola do bom Samaritano. Terminada a narrativa, Jesus perguntou: “Qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” “Aquele que usou de misericórdia”. Quem é nosso próximo hoje? Ser “próximo” não depende de raça, parentesco, da simpatia, proximidade ou de religião. A humanidade passa por crise de proximidade e por isso há uma divisão, uma separação entre “próximo e não próximo”, entre a riqueza e a pobreza. Jesus quebra a mera exigência ou o simples conceito de próximo e o transforma num gesto concreto. Saber quem é o nosso próximo depende de nós: Ver, sentir compaixão e se aproximar. Se você se aproxima, o outro se torna seu próximo. Jesus faz uma releitura da lei: O outro, o próximo é uma pessoa, um ser humano e por vezes em situação de sofrimento. O doutor baseava-se na lei, Jesus aponta para a pessoa.

O bom samaritano é aquele que age seguindo o exemplo de Jesus de Nazaré, sente o sofrimento concreto das pessoas e se faz próximo para aliviar a dor, curá-los, defendê-los, dar-lhes vida”. As pessoas que estão ao nosso redor buscam proximidade. Depende de nossa atitude, de nossa iniciativa para que elas sejam “nossos próximos”. A missão nos ensina sermos como o bom samaritano agindo movidos pela compaixão, nos aproximar delas e praticar a misericórdia.

Papa Francisco ensina: “O levita e o sacerdote vão por outro caminho e não se aproximam. Mas o samaritano justamente aquele desprezado, aquele em quem ninguém apostaria nada e que também tinha os seus compromissos e as suas coisas a fazer, quando vê o homem ferido, não passou além como os outros dois, que eram ligados ao Templo, mas “teve compaixão” isto é, o coração, as vísceras, se comoveu! Eis a diferença. Os outros dois “viram”, mas seus corações permaneceram fechados, frios. Em vez disso, o coração do samaritano estava sintonizado com o próprio coração de Deus. De fato, a “compaixão” é uma característica essencial da misericórdia de Deus. Deus tem compaixão de nós. O que quer dizer? Sofre conosco, sente nossos sofrimentos. Compaixão significa “compartilhar com”. O verbo indica que as vísceras se movam e tremem diante do mal do homem. E nos gestos e nas ações do bom samaritano reconhecemos o agir misericordioso de Deus em toda a história da salvação. É a mesma compaixão com que o Senhor vem ao encontro de cada um de nós: Ele não nos ignora, conhece as nossas dores, sabe quanto precisamos de ajuda e de consolação. É próximo a nós e nunca nos abandona. Cada um de nós, faça-se a pergunta e responda no coração: “Eu acredito nisso? Eu acredito que o Senhor tem compaixão de mim, assim como sou, pecador, com tantos problemas e tantas coisas?”. Pensar nisso e a resposta é: “Sim!”, mas cada um deve olhar no coração se tem a fé nessa compaixão de Deus, de Deus bom que se aproxima, nos cura, nos acaricia. E se nós o rejeitamos, Ele espera: é paciente e está sempre próximo a nós.

O samaritano se comporta com verdadeira misericórdia: acaba com as feridas daquele homem, leva-o para um albergue, cuida dele pessoalmente e providencia sua assistência. Tudo isso nos ensina que a compaixão, o amor, não é um sentimento vago, mas significa cuidar do outro até pagar pessoalmente. Significa comprometer-se realizando todos os passos necessários para “aproximar-se” do outro até identificar-se com ele: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Eis o mandamento do Senhor.  Papa diz que ”o rosto mais bonito de um país e de uma cidade é aqueles dos discípulos do Senhor – bispos, sacerdotes, religiosos, fieis leigos – que vivem com simplicidade, no cotidiano, o estilo do Bom Samaritano, e se fazem próximos à carne e às chagas dos irmãos, nos quais reconhecem a carne e as chagas de Jesus”. (cf.19.09.2015 em Budapest). Como o Bom Samaritano, não nos envergonhemos de tocar as feridas de quem sofre, mas procuremos curá-las com gestos concretos de amor.

São Lucas termina o relato com uma palavra significativa de Jesus para nós: “Vá, e faça a mesma coisa”. Vá e torna-te imitador de Jesus, próximo de todos, na família, na rua onde a gente mora, no ponto de ônibus, na escola, no comércio, na indústria, nos serviços. Onde encontramos pessoas aí somos chamados/as “sermos próximos”. Mas Jesus nos chama para um passo a mais: Ser próximo com os necessitados, pobres, doentes, sofredores, idosos, desvalidos e abandonados porque neles a vida está ameaçada.

Jesus se fez próximo de nós: Sendo Deus, se fez homem, veio viver a nossa vida, partilhar a realidade, assumir nossas dores para nos dar a sua vida: “Cristo é a imagem do Deus invisível… porque Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude”. Ele não viu a miséria de longe e nem não nos amou à distância: “Desceu, se encanou, tornou-se um de nós, viveu a nossa vida, fazendo-se Deus-conosco”. Ele é o Bom Samaritano, modelo daquele que “se faz próximo” do próximo: viu-nos à margem do caminho da vida; viu-nos roubados e despojados de nossa dignidade de imagem de Deus; viu-nos perdidos… Ele se compadeceu de nós, desceu até nós, fez-se homem, para nos curar, dar vida e salvar. Nele, se revela a plenitude do amor a Deus: “Deus quis por ele reconciliar consigo todos os seres que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz”. Somente em Cristo, encontramos a vida verdadeira. Só ele nos reconcilia com Deus e no aproxima uns dos outros.

É preciso “Ir às raízes dos problemas sociais, a partir da própria raiz da nossa espiritualidade, é o fundamento último da espiritualidade para um outro mundo possível. Daí que precisamos de uma Igreja de misericórdia, de uma Igreja mais cristã e mais humana, uma Igreja samaritana“. Afirma Paulo VI: “Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem níveis altos de colesterol ou de açúcar no sangue. Primeiro curar as suas feridas, depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas… É necessário começar de baixo”.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering.

Diocese de Rondonópolis-Guiratinga