O TABOR, EXPERIENCIA FUNDANTE

Estamos no segundo domingo da quaresma. Tempo de preparação para a celebração da Páscoa da ressurreição. A cor dos paramentos e do espaço celebrativo é roxa, sinal de alerta, de conversão.

A Campanha da fraternidade com o tema: A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Neste ano, o tema da Campanha é “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela Justiça” (Is 1,27).

O Texto-Base da Campanha da Fraternidade, nº 48 ensina: “As Políticas Públicas atualmente existentes no Brasil podem ser divididas entre as políticas de Estado e de Governo. Enquanto as políticas de Estado encontram-se amparadas pela Constituição devendo ser realizadas independentemente do governante de plantão, as políticas de governo são específicas a cada período do governante uma vez que no regime democrático há alternância no exercício dos poderes executivo e legislativo. Por conta disso o enfoque a seguir se concentra no conjunto das Políticas Públicas de Estado cujo molde atribuído pela Constituição Federal de 1988 estabeleceu atribuição ao poder executivo federal. Do total dos recursos mobilizados pelo poder executivo nacional para a execução das Políticas Públicas o governo federal concentra a maior responsabilidade (48%) seguido pelo conjunto dos governos estaduais (26%) e das prefeituras municipais (25%).

A palavra de Deus (Mt 17,1-9) nos convida para “subir à montanha, fazer a experiência da transfiguração, escutar o Filho amado de Deus para depois descer para junto ao povo, ao sofrimento, à dor e gemidos da humanidade para ser presença anunciadora da vida em Jesus Cristo. Há hoje uma tendência de subir e fazer três tendas e dizer: “Como é bom ficarmos aqui”, longe dos pobres, da violência, dos desafios da vida, da realidade concreta de cada dia. Mas é para este mundo que Deus nos criou e em Jesus nos chamou para a missão. A voz de Deus na montanha ressoa até hoje; “Escutai-o”. Escutar e seguir Jesus Cristo. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Escutar os clamores dos irmãos que necessitam de uma palavra, de um sorriso, de acolhida.

O rosto de Jesus tornou-se luminoso, brilhante, sinal da vida novo, do novo céu e da nova terra. E quem escuta o Filho amado de Deus tem seu rosto transfigurado pela esperança, vida, ética, amor, liberdade, vida. Sérgio Bradanini reflete: “O rosto luminoso de Jesus revela a sua verdadeira identidade aos discípulos para que, depois da ressurreição, possam entender que o rosto resplandecente do Ressuscitado é o mesmo do Jesus Crucificado. Com efeito, somente à luz da Páscoa eles entendem quem é realmente Jesus e o sentido de sua morte. Assim como o sol é a fonte da luz e “faz ver” as coisas como elas são, a luz da transfiguração de Jesus “faz ver” a sua identidade messiânica: revela a divindade em sua humanidade. Aqui os discípulos ouvem a voz de Deus chamando Jesus de “Filho”, e, durante a paixão, ouvem Jesus chamando a Deus de “Pai”. Neste monte, a humanidade de Jesus deixa transparecer a sua divindade e, no Getsêmani, a divindade assume plenamente a sua humanidade”.

“Este é o meu Filho bem-amado, em quem coloco todo o meu amor; escutai-O”… “É o meu Filho, por Ele tudo foi feito e sem Ele nada foi feito” (Jo 1,3). O Filho de Deus não se apropriou dessa igualdade que tinha com o Pai, não reivindicou o seu direito, mas, sem deixar a glória divina, humilhou-se até à condição de servo e obediente até a morte e morte de cruz. Mas Deus o ressuscitou (Fl 2,6). Nele encontramos a vida, a salvação. A Ele podemos escutar, abraçar e nos aproximar. “Deus não somente ama, mas também quer ser amado”.

Tabor, lugar revelador dos grandes mistérios de Deus e dos mistérios do coração humano. As experiências mais significativas e as revelações mais profundas vêm do Tabor, do Sinai, do Oreb, do Calvário, do Sermão da Montanha, da Colina de Roma. Tabor, mistério de Deus, mistério do coração humano. Revelação de Deus, revelação do humano que se encanta com o horizonte, com a brisa, com o silencio. Tabor, caminho a subir, mas horizonte a contemplar. Olhar mais longe. Descobertas, novas motivações.

No alto do monte Tabor, Pedro falou: “Senhor, que bom seria ficarmos aqui, quer que façamos três tendas”. Por vezes este também é o nosso desejo.  Cansados de viver no meio da multidão, nos afazeres do dia a dia, da realidade que nos cerca e dos compromissos inerentes, temos desejo de “ficar no alto da montanha, ir à beira do rio ou ir ao sítio e ali fazer tenda, isolar-se”. Não ter preocupação com o outro, com a comunidade, com a missão da Igreja, com os doentes, como a solidariedade com os irmãos. Necessitamos de silencio, de descanso, mas não isolar-se à vida inteira para fugir dos compromissos.

Rezemos com a Igreja: Pai misericordioso e compassivo, que governais o mundo com justiça e amor, dai-nos um coração sábio para reconhecer a presença do vosso Reino entre nós. Em sua grande misericórdia, Jesus, o Filho amado, habitando entre nós testemunhou o vosso infinito amor e anunciou o Evangelho da fraternidade e da paz. Seu exemplo nos ensine a acolher os pobres e marginalizados, nossos irmãos e irmãs com políticas públicas justas, e sejamos construtores de uma sociedade humana e solidária. O divino Espírito acenda em nossa Igreja a caridade sincera e o amor fraterno; a honestidade e o direito resplandeçam em nossa sociedade e sejamos verdadeiros cidadãos do “novo céu e da nova terra” Amém!

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

Dom Juventino Kestering
Bispo diocesano