IR ÀS ÁGUAS MAIS PROFUNDAS

 Estamos no V domingo do tempo comum. Ao entrar em um templo para a missa ou a celebração da Palavra você vai perceber que a cor litúrgica dos paramentos e alfaias do altar é verde. Sinal de esperança em Jesus, o salvador da humanidade.

A Palavra de Deus (Lc 5,1-11) toca profundamente nosso coração e nos incentiva para o seguimento de Jesus. “Jesus estava à margem do lago de Genesaré e a multidão se apertava ao seu redor para ouvi-lo”. Que cena e linda de Jesus! Estar no meio da multidão, deixar-se tocar pelas pessoas, ser presença dialogal. Jesus é Deus conosco. Deus presente na vida. Ele está no meio de nós. A multidão o rodeava porque queria ouvir a Palavra de Deus e estava sedenta para ouvir uma Boa Nova, uma mensagem que tocasse o coração e que desse um novo rumo para a vida. E Jesus é esta Palavra viva que desperta o coração sedento para fazer a experiência do seguimento. Esta palavra tem importância para os dias de hoje. Em meio a tanto ruído e pressa as pessoas muitas vezes não tiram tempo para ler a Palavra de Deus e fazer com que ela se torne vida para cada um de nós.

Depois que Jesus ensinou às multidões Ele viu duas barcas paradas. Sim barcos parados. Nem um barco pode ficar parado. Jesus disse aos discípulos: “Avancem para as águas mais profundas e lançai as redes para a pesca”. Ir às águas mais profundas significa uma evangelização com mais qualidade, capacitação dos agentes, comunicação mais eficiente.

Jesus disse: “Lançai a rede ao mar”.  Simão Pedro respondeu: “Mestre, pescamos a noite inteira e não pegamos nada”. Pescar à noite significa estar longe de Jesus, viver na escuridão, não perceber um horizonte, estar sujeito a perigos. Quem está no pecado, no caminho da injustiça e do erro, caminha à noite e por isso seu coração está fechado para Deus, para a Igreja, para a comunidade, para a celebração e para os irmãos. Os discípulos, ao amanhecer, e em atenção à Palavra de Jesus jogaram as redes. E qual foi a surpresa: Uma rede cheia de peixe. Sim, pescar de dia, pescar iluminado por Jesus. A palavra “pesca” tem o sentido de missão, de trabalho missionário, de ser evangelizador.

Neste sentido nos fala São Paulo (1Cor 15,1-11). Ele recebeu a missão de evangelizar, de ir “às águas mais profundas”. Deixou o mundo judaico e foi para o mundo dos gentios, para “águas mais profundas”. “Transmito-vos aquilo que eu mesmo tinha recebido, a saber: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ao terceiro dia ressuscitou”.  Esse era o núcleo central da missão de Paulo. Anunciar Jesus, filho de Deus, morto e ressuscitado, salvador da humanidade. E conclui seu testemunho dizendo: “Isso temos pregado e é isso que crestes”.

O profeta Isaias (6,1-8) diante do chamado para evangelizar responde: “Aqui estou! Envia-me”. A nossa missão como cristão é a mesma de Jesus e dos apóstolos. Hoje somos chamados a sermos evangelizadores. Cada um de nós é chamado a “ir às águas mais profundas” e dizer como o profeta: “Aqui estou, envia-me”. Papa Francisco traduz esses desafio de ir às água mais profundas com a palavra “Igreja em saída”. Adverte que “Na Palavra de Deus, aparece este dinamismo de “saída”, que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12, 1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: “Vai; Eu te envio” (Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3, 17). A Jeremias disse: “Irás aonde Eu te enviar” (jr 1, 7). Naquele “ide” de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e “hoje todos somos chamados a esta nova, todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG 20). As periferias existenciais, sociais, a descrença, a perda dos valores, a perda do sentido da vida, aa fome, o desemprego, são algumas das águas mais profundas quer requer uma atitude do cristão.

Rezemos com a Igreja: Velai, ó Deus, sobre a vossa família com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo…

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo diocesano