GANHAR A VIDA

Estamos no 28ª domingo do tempo comum. A cor litúrgica continua verde. Neste mês missionário somos chamados a sermos Igreja missionária que se compromete em anunciar as maravilhas do Evangelho a todos às pessoas, raças, povos e culturas.

Para o ano 2018, a Igreja Católica escolheu para o mês missionário o tema: “Enviados para testemunhar o Evangelho da paz” e o lema: “Vós sois todos” (Mt 23,8), com base na narrativa do Evangelho, onde Cristo centraliza no serviço o perfil dos discípulos e missionários. “Servir é uma das palavras que identifica a missão. Não existe missão, se não tiver serviço, porque serviço dá sentido à missão”. O serviço é um apelo ao ser missionário. “A missão da Igreja nasce da mesma missão de Jesus, o enviado pelo Pai ao mundo para comunicar o amor de Deus por nós e instaurar o Reino pela pregação da Boa Nova. Jesus é o modelo a ser seguido, como nos afirma o papa Francisco: “Jesus é o primeiro e o maior evangelizador. Em toda a vida da Igreja, sempre se deve manifestar que a iniciativa pertence a Deus, ‘porque Ele nos amou primeiro’ (1 Jo 4,19) e é ‘só Deus que faz crescer’ (1 Cor 3,7)  Jesus assume em sua vida a missão que o Pai lhe confia, a começar pela sua encarnação e sua vida pública. O gesto supremo de Deus foi o de estar no meio de nós por meio de seu Filho Jesus, o qual veio nos ajudar a sermos irmãos e irmãs uns dos outros”(Novena missionária pg. 13).

A Palavra de Deus deste domingo (Mc 10,17-27) é convite para avaliar os passos do cristão discípulo missionário: viver em profundidade os mandamentos de Deus, fazer a experiência da partilha, ser solidário com as pessoas e seguir os passos de Jesus. Jesus estava caminhando. Um jovem ajoelhou-se diante de Jesus e disse: “Bom Mestre, o que devo fazer para ganhar a vida eterna”. O jovem fez boa pergunta. O que fazer… ganhar a vida eterna…  Nos dias atuais alastrou-se uma prática de que é preciso aproveitar bem a vida aqui e agora e não se preocupar com a vida eterna. Cresce um relativismo em que tudo é válido na vida. Sem leis, sem justiça nem ética, sem valores e princípios de vida. Faz parte do credo cristão e do ensino da Bíblia “de que nós cristãos cremos na vida eterna”. Isto é: Depois da morte nossa vida continua na eternidade junto de Deus. Você crê na vida eterna? O jovem fez a pergunta a Jesus pensando na vida eterna. Jesus foi simples à sua resposta. Colocou poucas condições: “Amar a Deus acima de tudo e amar o próximo como a si mesmo” e cultivar o espírito de partilha, de justiça, de solidariedade. “Vai vende o que te sobra e distribui aos pobres”. A primeira condição o jovem aceitou: “amar a Deus acima de tudo”, mas na segunda proposta o jovem ficou triste, abatido, desorientado… pois era rico e apegado aos seus bens. Tinha desejo de possuir a vida eterna, mas sem nenhum desejo de partilha. Queria acumular mais sem bens sem lembrar-se do irmão.

Essa realidade faz parte do cotidiano atual. O sistema econômico cada vez impulsiona e condiciona as pessoas para serem felizes a qualquer custo; adquirir coisas, encher-se de equipamentos, ter acesso a todas as benesses da vida, ser um consumidor das novidades, ter sucesso, isolar-se em torno de si mesmo, gozar o máximo da vida porque ela é breve e passa rápido. Esse caminho é contrário ao evangelho. O projeto de Deus quer que sejam filhas e filhos de Deus e irmãos uns dos outros, que os bens estejam a serviço de todos e para o bem de todos. Essa é a radicalidade do evangelho. Mas Jesus continua dizendo: quem promove seu irmão, quem sabe usufruir das coisas sem apegar-se nelas, quem sabe partilhar com os irmãos na justiça e solidariedade, este sim, recebe o cêntuplo na vida eterna.

Na carta aos Hebreus (4,12-12) São Paulo chama atenção das comunidades cristãs e dos seguidores de Jesus Cristo sobre a importância da Palavra de Deus. Não é uma palavra vazia, sem eco, sem retorno. “A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir, alma, espírito, articulações e medula”. Somos ouvintes e anunciadores desta Palavra de Deus. Cada vez mais os cristãos são convidados a deixarem se orientar pela Palavra de Deus. Escutar a Palavra, fazer que ela seja luz, farol e horizonte para a nossa vida. Mas não basta saber de cor e repetir a palavra de Deus. Ela deve penetrar dentro de nós e modificar nossa vida, arrancar toda forma de males e deixar que a água pura da Palavra de Deus alimente a nossa vida. A carta aos Hebreus ainda continua: “Ela julga os pensamentos e as intenções do coração”. A Palavra de Deus que é baliza de nossas ações, gestos, atitudes e das motivações do coração. Quem se deixa tocar pela palavra de Deus e a transforma em gestos concretos de caridade, de vida e de seguimento tem a certeza de que vive a vida com dignidade e esperança de vida eterna.

Rezemos com a Igreja a oração missionária: Deus Pai, Filho e Espírito Santo, nós Vos louvamos e bendizemos pela Vossa comunhão, princípio e fonte da missão.

Ajudai-nos, à luz do Evangelho da paz testemunhar com esperança, um mundo de justiça e diálogo, de honestidade e verdade, sem ódio e sem violência. Ajudai-nos a sermos todos irmãos e irmãs, seguindo Jesus Cristo rumo ao Reino definitivo. Amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano Rondonópolis-Guiratinga