SE ALGUÉM QUISER SER O PRIMEIRO!

Estamos no 25º domingo do tempo comum. A cor litúrgica é verde. Sinal da esperança depositada em Jesus Cristo. Setembro é o mês da Bíblia, o livro da Palavra de Deus, fonte de vida e salvação.

A Palavra de Deus (Mc 9,27-37) nos questiona sobre atitudes, interrogações e dúvidas que surgem na vida do cristão. Jesus estava atravessando as terras de Cesaréia de Felipe. Vinha instruindo os discípulos sobre realidades complexas e dizia: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas três dias após sua morte ele ressuscitará”. É um tema desafiador: a morte e ressurreição de Jesus e consequentemente a nossa morte e a vida eterna.

Porém os discípulos não estavam atentos a estes ensinamentos. Jesus percebeu que eles estavam com o coração, a mente e a atenção muito distante e perguntou: “O que discutis pelo caminho”? Os discípulos ficaram calados, pois eles estavam discutindo quem seria o maior entre eles. Jesus durante anos ensinou sobre o serviço, o amor, o perdão, o Reino de Deus, mas os discípulos permaneceram preocupados com sua projeção pessoal. Quem seria o maior, quem é o primeiro. O mais importante!

Vamos olhar para a realidade, para as famílias, para a sociedade e para nós mesmos. Diante dos desafios em que a Igreja vive, diante da necessidade dos cristãos serem evangelizadores, de tantos que necessitam de pão, de instrução, de ética, de cidadania, de um lugar na vida, das realidades vividas na família; diante da violência que assola a sociedade, o drama dos refugiados e migrantes, diante da realidade dos povos indígenas, diante do sofrimento, da doença, da dor… por vezes o cristão passa ao lado destes desafios e fica preocupado com sua projeção social, cria intrigas nas pastorais e movimentos porque quer ser o maior, o chefe, aquele que manda. Fica conversando novelas, futilidade no whatsApp e os problemas concretos continuam.

Jesus toma a palavra e diz: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos”. Nessas poucas palavras Jesus define o núcleo central da missão e do seguimento: a atitude do serviço, da gratuidade, do amor aos irmãos sem interesses pessoais ou vantagem na sociedade.

Papa Francisco fala em “primeirar”: “A Igreja em saída” é a comunidade de discípulos missionários que “primeireiam”, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa e  precedeu-a no amor e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos”.

O Apóstolo Tiago (3,16) alerta dizendo: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e todas as espécies de obras más”. A competição entre pessoas, entre lideranças, entre as comunidades geram a rivalidades e invejas. Não é este o caminho que o cristão é chamado a seguir. O apóstolo Tiago aconselha: “A sabedoria que vem do alto, antes de tudo pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidades e sem fingimento. O fruto da justiça semeado na paz, para aqueles que promovem a paz”.

Fazer a experiência da fé, viver como cristão católico na comunidade, na família e na sociedade requer moldar a vida segundo os ensinamentos de Jesus. Quem segue Jesus Cristo carrega no coração, nas posturas de sua vida um novo jeito de viver, de ser e de agir. O coração do cristão é moldado por valores do evangelho: O serviço, a paz, a modéstia, a honestidade, a ética, a caridade, a reconciliação. Quem vive este valor sente a beleza de ser cristão e a alegria de servir aos irmãos. A atitude do serviço gratuito à comunidade é o maior testemunho de vida e gera verdadeira conversão, pois o testemunho de vida irradia nos corações humanos.

Em todas as comunidades, as pastorais e movimentos eclesiais encontramos muitas pessoas que prestam um serviço à comunidade e à evangelização numa atitude de silencio, de gratuidade e de doação aos irmãos. Para mostrar um exemplo concreto Jesus toma uma criança no colo e abrando-a disse: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher está acolhendo não a mim, mas àquele que me enviou”. A criança deixa-se ser acolhida. E Jesus mostrou através deste exemplo como deve ser o processo de crescimento do cristão. Deixar-se sempre acolher por Jesus, acolher os irmãos sem distinção de caça, cor, etnia.

Rezemos com a Igreja: Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fa­zei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

Dom Juventino Kestering.

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga.