OUVIR OS CLAMORES

Estamos no 23º domingo do tempo comum. Mês da Bíblia, tempo para ler e ouvir a Palavra de Deus. A cor litúrgica do ambiente celebrativo é verde, cor da esperança.

A Palavra de Deus é de (Mc 7,31-37) “Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou o caminho até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. Jesus afastou-se com o homem para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá” que quer dizer “abre-te!” Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”.

Padre Zezinho, em “Cidadão do Infinito” canta:
Por escutar uma voz que disse
Que faltava gente pra semear
Deixei meu lar e saí sorrindo,
E assobiando pra não chorar.
Fui me alistar entre os operários
Que deixam tudo pra te levar
E fui lutar por um mundo nov
Não tenho lar mais ganhei um povo.

Escutar. Ouvidos e coração abertos. Na passagem do mar vermelho (Ex 14,21s)  as águas se abriram. E assim o povo de Deus encontrou o caminho da liberdade. No batismo de Jesus (Mc 1,10) os céus se abriram e a voz dizia “Tu és o filho muito amado, em ti ponho a minha afeição”. E a partir daí Jesus inicia a missão. Na ressurreição de Jesus “o sepulcro se estava aberto” (Lc 24, 2). E Cristo ressuscitado está vivo e caminha à nossa frente. Na liturgia de hoje Jesus prenuncia a palavra “Efatá”, abre-te”. Assim Jesus ensina que ontem no batismo e hoje no compromisso batismal precisamos estar com os ouvidos, com o coração, com a mente abertos para ouvirmos os apelos de Deus, mas ao mesmo tempo as dores e sofrimentos da humanidade. Em meio aos 13 milhões de desempregados em no país, na crise humanitária da Venezuela, nos migrantes do Mediterrâneo, das vitimas da guerra e da violência há muitos gritos e gemidos de dor, de abandono, de sofrimento. O Papa francisco insiste constantemente na necessidade de ouvir o grito que clama aos céus. Ouvir e agir.

No ritual do batismo o ministro sopra nos ouvidos e pronuncia Efeta, ou seja: Que teus ouvidos estejam abertos para ouvir a Palavra de Deus, para ouvir o grito da realidade da vida como disse o Papa Francisco: “as dores da periferia social e existencial”.

Escutar, agir e falar. A quem escutamos? Será que não escutamos mais uma notícia do  WhatsApp, de um meio de comunicação ou de uma fofoca do que a Deus, do que o ensina da Igreja, do que o Evangelho? A quem os filhos escutam? Pior surdes é de quem ouve, mas não quer ouvir. Ouvidos fechados à palavra de Deus, às necessidades da comunidade, à vida da família. E essa surdez faz endurecer o coração humano, o torna insensível e perde o senso dos valores, da ética, da boa conduta.

A canção “Oração de cura” de Padre Antonio Maria canta: Toca Senhor, toca Senhor, com Teu Amor, com Teu Amo, Tira todo o medo, angustia e aflição, Toca nesta alma e cura o coração. Jesus realizava sua missão no contato com as pessoas, no ouvir e falar, no caminhar e estar perto das pessoas, no tocar as pessoas. A atitude de servir aproxima, cria laços, gera confiança. Esses gestos são importantes na evangelização, mas também no cotidiano da vida e em especial na convivência com a família.

Neste sentido (Tg 2,1-5) adverte “Entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida, e também um pobre, com sua roupa surrada, e vós dedicais atenção ao que está bem vestido, dizendo-lhe: “Vem sentar-te aqui, à vontade           enquanto dizeis ao pobre: “Fica aí, de pé ou então: Senta-te aqui no chão, aos meus pés” – “não fizestes, então, discriminação entre vós? E não vos tornastes juízes com critérios injustos? São dois gestos diferentes, duas atitudes de coração que separam a s pessoas por classes sociais

E o profeta (Is 33,4-7) nos reergue: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompense de Deus; é ele que vem para vos salvar”. ‘Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdo. Brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes de água”

Rezar com a Igreja: Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que I creem no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

Dom Juventino Kestering
Bispo diocesano de Rondonópolis-Guiratinga